Como música e política podem sempre andar juntas

Jornalista especializado em música e autor de “Do Vinil ao Streaming”, Daniel Setti indica cinco álbuns, filmes e livros que mostram a relação de grandes artistas com pautas feministas, pacifistas e raciais

03 de Outubro de 2025

Ao debruçar-se sobre mais de 100 discos internacionais para escrever seus dois livros, o jornalista e escritor Daniel Setti percebeu que pautas políticas não são coisa rara na música pop. A luta contra o machismo e a misoginia, contra o racismo e pela igualdade, pelo fim das guerras e muitas outras questões humanitárias viraram tema de letras de música de grandes ídolos da música popular mundial ao longo do século 20.

“Os efeitos da misoginia permeiam tanto a obra de uma Tina Turner em 1966 quanto a de uma Lauryn Hill em 1998; o fantasma da Guerra Fria assombrou desde o Bob Dylan lá em Minnesota ao Kraftwerk ali em Dusseldörf; as consequências do vício em drogas eram um problema recorrente nos versos de Curtis Mayfield nos anos 1970, mas também nos do Wu-Tang Clan nos 1990”,

Já o racismo, ele aponta, “aparece nas letras de gênios que integraram o movimento pelos direitos civis da população afro-americana nos anos 1960 (Sam Cooke, Aretha Franklin, James Brown, o próprio Curtis), mas também nas de astros do século 21 apoiadores do Black Lives Matter (Erykah Badu, Beyoncé, D’Angelo, Kendrick Lamar)”.

Tomando como base o recorte de 60 artistas e bandas cujos álbuns são objeto de análise em seu segundo livro, “Do Vinil ao Streaming Vol.2: 60 anos em outros 60 discos” (Autêntica Editora, 2025), Setti escolhe um álbum, livros e documentários que ressaltam a face mais política de artistas.

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    O livro “Rememberings”, autobiografia de Sinéad O’Connor

    (2021)

    “Com a mesma coragem e honestidade que lhe fizeram fama, Sinéad O’Connor repassa aqui a sua vida. É um relato transparente e comovente, repleto de episódios em que ela foi abusada, explorada ou sabotada apenas por ser mulher e falar o que pensava. O livro também mostra a força da saudosa cantora irlandesa na defesa de suas ideias e das bandeiras que levantou.”

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    O documentário “Matangi/Maya/M.I.A.”

    (2018)

    “Xenofobia é um dos assuntos favoritos de M.I.A., artista londrina de origem tamil, uma minoria étnica do Sri Lanka e da Índia. Neste filme, ela conta como o seu despertar musical foi engatilhado por seu ativismo político, e como a sensação de não-pertencimento norteia o seu trabalho. ‘Num dia eu estava sendo baleada por ser uma tamil, noutro sendo cuspida e xingada de paki [termo depreciativo destinado a paquistaneses] na Inglaterra’, diz.” Disponível na Apple TV+.

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    O documentário “Sly Lives! (aka The Burden of Black Genius)”

    (2018)

    Dirigido pelo faz-tudo Ahmir “Questlove” Thompson, uma das mentes musicais mais brilhantes do século 21, este longa ressalta a importância multifacetada de Sly Stone (1943-2025), incluindo as barreiras sociais e raciais que ele cruzou no auge de sua carreira. Em pauta, o pioneirismo de sua grande banda, Sly & The Family Stone, a primeira do mainstream pop formada por integrantes negros e brancos e mulheres musicistas, seu interesse pelos Panteras Negras e suas canções que pregavam o orgulho racial. Disponível na Disney+.

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    O álbum “A Seat at the Table”, de Solange

    (2016)

    “Inspirada pelo movimento Black Lives Matter e pelo feminismo negro, Solange mergulha na ancestralidade e na feminilidade em seu fabuloso terceiro álbum. Número 1 nos Estados Unidos, o disco causou tamanho impacto que mereceu até um ótimo livro-estudo a seu respeito, ‘Why Solange Matters‘ (Faber & Faber, 2021), da jornalista afro-britânica Stephanie Phillips.”

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    O documentário “No Direction Home”, sobre Bob Dylan

    (2005)

    “Só mesmo Martin Scorsese para conseguir arrancar do recluso Bob Dylan as suas próprias impressões a respeito dos seus primeiros anos sob os holofotes. O filme de três horas e meia tenta explicar o porquê de Dylan ter sido considerado uma personalidade política tão importante em tempos tão convulsos.” Disponível no Globoplay.

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